O grego koiné era a língua falada pelos bárbaros do império romano, era uma mistura do grego clássico com influencia das línguas dos povos sob o domínio romano. O Novo Testamento foi escrito por homens simples e por isso ele carrega as peculiaridades destes homens de Deus que em geral eram homens simples, com excessão do livro do Lucas. O gramático Antônio Freire, S.J. em sua Gramática Grega aprofunda este tema dizendo:
“Todos os livros do Novo Testamento ( Evangelhos, Atos dos Apóstolos, Epístolas, e Apocalipse ), à exceção do Evangelho de S. Mateus, foram redigidos primeiramente em grego.
O grego bíblico, porém, difere em muitas particularidades do grego clássico.
Com a expansão da civilização helênica pelo mundo oriental, a língua grega difundiu-se tão
universalmente através dos povos conquistados, que veio a chamar-se língua comum ou koinh _ (dia_llektoV_).
A koinh_ era um idioma eclético ( vinda de várias fontes ), proveniente da fusão dos vários dialetos. Predominava, contudo, o dialeto Ático.
Os livros do Novo Testamento foram escritos não na koinh_ erudita usada pelos escritores aticistas, como Plutarco e Luciano, mas na koinh _ popular, bastante diferente da primeira.
Distingue-se, no uso e seleção das palavras, S. Lucas e S. Paulo. As obras de maior perfeição estilística são a “Epístola aos Hebreus” e a “Epístola de S. Tiago; as que mais se afastam da pureza de linguagem são o Evangelho de S. Marcos e as obras de S. João, sobretudo o Apocalipse.
a. É freqüente o emprego do genitivo qualificativo em vez de adjetivo, sobretudo com ui_o_V (filho ) ou te_kknon ( criança, filho ). Exs.
o_ krith_V th_V _adiki_aaV ( Lc 18:6 ), O juiz injusto.
ui_o_V e_irh_nnhV ( Lc 10:6 ), Filho da paz ( = pacífico ).
ui_o_i tou_ ai_w_nnoV tou_tto ( Lc 18:6 ), os mundanos.
ui_ooi_ tou_ fwto_V ( Jo 12:36 ) Filhos do leito nupcial, isto é, amigos do noivo.
b. Também é freqüente exprimir o predicativo ( do sujeito ou do objeto direto ) pelo acusativo precedido de e_iV. Exs.:
__e_ssomai _umi_n e_iV pate_rra kai_ _umeiV _esesqe_ moi ei_V ui_o_V ( II Co 6:18 ). Serei vosso pai e vós sereis meus filhos.
_eiV profh_tthn _auto_n e_i_ccon ( Mt 21:46 ), Tinham-no como profeta.
c. Encontra-se, por vezes, o positivo em vez do comparativo ou superlativo. Exs.:
kalo_n _esti_n se e_iselqei_n e_iV th_n zwh_n cwlo_nn, _h _ tou__ duo_o po_ddaV _ec_cconta blhqh_nnai e_i_
ge_eennan ( Mc 9:45 ), Mais vale entrares coxo na vida ( eterna ), do que seres lançado para a geena com ambos os pés.
d. Repetição do substantivo para exprimir totalidade ou plenitude. Exs.:
e_iV tou_V a_iw_nnaV tw_n a_iw nnwn ( Ap 1:6 ), Pelos séculos dos séculos.
e._ei__VV, mi_aa, e_n, um, usado em vez de prw_ttoV, h, on, primeiro, principalmente para indicar o primeiro dia da semana. Ex.:
_en mia_ tw_n sabba_ttwn ( Mt 28:1 ), No primeiro dia da semana.
Obs. Note-se, de passagem, o emprego de ei__V em vez de tiV, com sentido equivalente ao nosso artigo indefinido um. Ex.: ei__V grammateu_VV, um escriba.
f. É freqüente, sobretudo em S. Lucas, o emprego de _egen_nneto, sucedeu ( sune_bbh ), com indicativo em vez de infinitivo. Ex.:
kai_ _ege_nneto _h_llqon peritemei_n to_ paidi_oon ( Lc 1:59 ), E aconteceu que foram circuncidar o menino.
g. kai_, além do sentido de partícula copulativa ( e ), traduz, por vezes, a idéia de ‘retorno’ (então, em conseqüência ). Ex.:
e_i ui_o_V e_i_ Qeou_ kai_ kata_bbhqi _apo_ tou _ straurou_ ( Mt 27:40 ), Se és Filho de Deus, desce então da cruz.
h. A conjunção e_i ( no clássico: se ) usa-se, muitas vezes, como interrogativa direta. Ex.:
e_i pata_xxomen _en macai_rra; ( Lc 22:49 ), feriremos com a espada?_”
B. P. Bittencourt aprofunda a discussão sobre a simplificação do grego koiné em comparação ao grego clássico dizendo:
“Talvez o termo que abrange a área mais extensa na Koinê é a ‘simplificação’. Sentenças simples e curtas ( note o estudante como é rebuscado e relativamente longo o prólogo de Lucas de tendência clássica ) que suplantavam a complexidade da sintaxe clássica. A glória do Ático era a riqueza de conexões destinadas expressar as mais delicadas nuanças do pensamento nas relações das cláusulas. O mercador da praça de Alexandria ou o soldado romano estacionado na Síria não possuíam essa habilidade.
É a diferença entre a especulação de Platão e a linguagem simples de um homem falando de um barco no mar da Galiléia; e deste, falando do barco e do campo, passa-se a outro que se endereçava ao povo na praça do mercado das cidades grandes.
As cláusulas subordinadas cedem lugar às coordenadas e a conjunção_kai_ ( e ) é eleita.Dentre mais de uma dúzia de meios usados pelos clássicos para expressar propósito, a Koinê escolhe i__nna ( afim de que ) com o subjuntivo.
Enquanto os clássicos possuíam mais de cem flexões verbais, a Koinê as reduzia, eliminando de vez o dual e quase liquidando o optativo, que aparece apenas 67 vezes no Novo Testamento. A comparação entre o Português analítico e o Inglês sintético ilustra: O verbo desejar possui dezenas de formas em Português, e, em Inglês, há só três: desire, desires, desired.
A Koinê usa o presente histórico nas narrativas; o presente é usado para o futuro; o perfeito no sentido de presente. Prefere os superlativos aos comparativos. Há uma constante luta para uma ênfase que às vezes é falsa, com expressões como: “exatamente o mesmo”, “para todos e para cada um” etc.
A Koinê usava muito o pronome como sujeito de verbos que não o pediam, o que indica, na simplificação de um estilo, a luta pela ênfase, que incluía, também, maior uso do diminutivo.
A principal influência era sintática e não morfológica. Um só exemplo bastaria com a
referência às cláusulas coordenadas com kai_ .Neste ponto vale a menção das influências semíticas oriundas das fontes veterotestamentárias do aramaico ou dos documentos que formam atrás da versão grega da Septuaginta, muito usada pelos autores do Novo Testamento.”
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